Projeto Aprendizagem Profissional Inclusiva possibilita inserção de jovens migrantes no mercado
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- Criado: Terça, 18 Junho 2024 10:36
“A empresa impactou muito a minha vida pessoalmente e profissionalmente, e o Senai impulsionou habilidades que eu já trazia, como a fala e a comunicação”, resume Rosiree Alvarez, de 18 anos. Jovem aprendiz contratada pela Brasal Refrigerantes, a venezuelana atua no setor da empresa que cuida da saúde e segurança do trabalho e faz o curso de Assistente Administrativo na unidade do Setor de Indústrias Gráficas (SIG) do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial do Distrito Federal (Senai-DF).
Rosiree é um dos participantes do projeto Aprendizagem Profissional Inclusiva (API), que tem o objetivo de fomentar a formação técnico-profissional de jovens aliada ao desenvolvimento humano. Ela deixou a Venezuela com a família para viver no Brasil há cerca de um ano. “Foi muito difícil no começo, porque eu não falava nada [em português]. Com o tempo, a prática faz a gente melhorar”, diz a estudante.
No Distrito Federal, o projeto API é coordenado pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) e pela Agência da ONU para as Migrações (OIM).
O financiamento é da Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID); do Projeto Oportunidades, da OIM; e do Ministério Público do Trabalho. A realização é do Senai-DF, que ministra o curso, e da Brasal Refrigerantes, que emprega os estudantes. A iniciativa tem o apoio da Secretaria de Desenvolvimento Social do DF.
Além da qualificação, a iniciativa visa ao aprimoramento de competências socioemocionais e à criação de oportunidades de acesso ao mercado de trabalho formal. Dezesseis jovens migrantes da Colômbia e da Venezuela integram a primeira turma do projeto no DF, iniciada em agosto. A capacitação é de 800 horas — metade delas de formação teórica no Senai-DF, no curso de Assistente Administrativo, e a outra metade, prática, na empresa. Eles aprendem a executar rotinas administrativas relacionadas a áreas como recursos humanos, marketing, logística e contabilidade, com atenção a procedimentos de trabalho e normas da qualidade, saúde, segurança e meio ambiente.
O contrato garante os direitos e as obrigações da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) enquanto os jovens estiveram no programa. A participação no projeto API deu a Antheus Tapia, de 19 anos, a chance de ter a carteira de trabalho assinada pela primeira vez. “Tinha experiência com trabalhos informais. Quando apareceu esta oportunidade, eu pensei: ‘Tenho que aproveitar!’", conta, entusiasmado, o venezuelano, que vive no Brasil há quatro anos.
O rapaz integra a equipe da área de ativos de giro da Brasal Refrigerantes — o setor cuida do controle de materiais e patrimônios da empresa. “É bem fascinante. No começo, pensei que eram complicadas as funções que eles desempenhavam, mas, com o passar do tempo, fui aprendendo. O que a gente estuda no Senai me ajuda bastante a aprimorar meus conhecimentos e minhas aptidões e a aproveitar o tempo de trabalho e fazer meus deveres da melhor maneira”, explica Antheus.
Brenyer Gonzales, de 16 anos, atua na área de gestão de pessoas e elogia o modelo do programa. “Assim como o que aprendi no Senai me ajuda aqui, existem coisas que aprendo aqui que também me ajudam no Senai. É um aprendizado contínuo. Independentemente do lugar em que eu estiver, se for no Senai ou aqui na indústria, eu consigo aprender”, afirma o adolescente venezuelano.
A indústria em que os alunos do projeto API trabalham fica em Taguatinga e fabrica, comercializa e distribui, entre outras bebidas, produtos da marca Coca-Cola. Mesmo não exercendo funções diretamente ligadas à produção, os jovens aprendizes são importantes para diversas operações.
Segundo a supervisora de Inteligência Logística da Brasal Refrigerantes, Sarah Vasconcelos, o compartilhamento de conhecimentos entre colaboradores e aprendizes contribui para a melhoria contínua dos processos. “A troca cultural é muito boa para o ambiente de trabalho — nos torna seres humanos melhores, com uma visibilidade maior para o mundo”, acredita. “É muito bom ajudá-los neste passo profissional, na mudança da juventude para a fase adulta, mostrar a eles como funciona o dia a dia corporativo e instruí-los para que estejam prontos para o novo”, pontua.
Visitas da USAID e da OIT
Nos meses de março e abril, os jovens aprendizes compartilharam experiências de vida e da formação em duas rodas de conversa com representantes das instituições internacionais envolvidas projeto.
Em abril, membros da USAID conheceram os estudantes, em visita ao Senai Taguatinga. Em março, a ação ocorreu no Sesi Lab, ocasião em que os alunos visitaram as instalações do espaço pela primeira vez. “O mais importante é a possibilidade de estes jovens poderem se realizar profissionalmente, aprender e, no futuro, participar do mercado produtivo do Brasil assim como brasileiros, com o mesmo acesso a oportunidades”, disse a diretora-geral adjunta de Relações Externas e Corporativas da OIT, Laura Thompson, que, em agenda no Brasil, aproveitou para conhecer o projeto API e conversar com os estudantes.
Na ocasião, o diretor regional do Senai-DF, Marco Secco, destacou o papel do Senai em dar resposta às necessidades da indústria e a relevância desse tipo de experiência para os jovens. “Nossa sociedade está muito centrada em serviço, mas existe todo um processo de produção por trás. Muitas vezes, ao consumir um refrigerante, não se percebe isso. E vocês estão lá na fábrica conhecendo um pouco esse processo”, disse.