Tema antidrogas leva alunos a centro de recuperação
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- Criado: Segunda, 08 Agosto 2011 00:00
Roberto Silva (*) tem 29 anos. Com pouco mais de dez anos, a curiosidade e os amigos o levaram a fumar o primeiro cigarro. O cigarro ganhou o acompanhamento da cerveja. Mas logo a cerveja não embriagava mais e vieram o conhaque e o whisky. A pouca maturidade e a falta de instrução em casa o fez fumar a maconha pela primeira vez aos 14 anos. “Do vício do álcool para as drogas ilícitas é um pulo”, conta Roberto. A droga, denominada como ‘o desconhecido’ pelo ex-usuário, vai sendo desvendada à medida que perde a graça para o dependente químico. Da maconha, Roberto passou para a cocaína e da cocaína para a mais avassaladora droga da atualidade, o crack. “O crack acabou comigo em três meses. Perdi tudo. Vendi minha casa, e pasmem, vendi até o meu cachorro para comprar drogas”, finalizou.
O testemunho foi ouvido por cerca de 50 alunos do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai-DF), na última sexta-feira (5/8), no centro de recuperação de dependentes químicos Filho Pródigo, localizado em Planaltina DF. Os estudantes das unidades de Taguatinga e do Centro de Tecnologia da Informação estiveram no local - paupérrimo - para fazer a entrega de alimentos não perecíveis e produtos de higiene pessoal, arrecadados em uma gincana realizada na entidade. A casa foi escolhida para a doação, uma vez que o tema transversal tratado dentro das salas de aula em 2011 é “Diga não às Drogas”.
“É fundamental que os jovens falem sobre as drogas e conheçam o mal que elas causam não só no dependente como em toda sua família. Ver em loco e ouvir os testemunhos dos dependentes em recuperação certamente fará os alunos refletirem acerca do tema e tenham coragem de dizer não a uma copo de bebida, por exemplo”, disse a técnica em educação do Senai-DF Ana Luzia Brito.
Os vários testemunhos ouvidos pelos estudantes têm muito em comum. O começo com drogas lícitas; a curiosidade que parte de uma brincadeira ou da insistência dos alunos; a dependência que faz o usuário buscar drogas cada vez mais pesadas; o roubo; as inúmeras detenções; a devastação da pessoa humana e da sua família; o fundo do poço.
Fernando Tavares (*) tem apenas 17 anos e só foi levado à casa de recuperação pelos familiares porque está ameaçado de morte. “Meu pai está preso, minha irmã é traficante e tem gente querendo me matar pelas dívidas que contraídas pelo vício. Faz nove meses que não coloco nenhuma droga na boca, quero me refazer como pessoa, voltar estudar e ser alguém na vida”, relatou o menino. Perguntado pelos seus sonhos, respondeu: “Sonho em reconquistar o respeito da minha mãe e ter uma família”, disse.
Diante dos depoimentos, os estudantes do Senai-DF aproveitaram pra fazer muitas perguntas e sanarem suas dúvidas acerca do tema. Muitos queriam saber como identificar uma pessoa que está mexendo com drogas; como se dá a transição das drogas lícitas para as ilícitas; como eles foram parar na casa de recuperação; entre muitos outros questionamentos.
Segundo Maicom Nelson Antunes (20), aluno do curso técnico em Administração do Centro de Tecnologia do Senai-DF, valeu a pena ir de porta em porta, entrar em ônibus pedindo doações, conseguir a colaboração de mercados para arrecadar os alimentos. “Perdemos a vergonha para pedir as doações em muitos lugares. Mas quem ganhou fomos nós, ao podermos ouvir tantos testemunhos de superação”, disse. Maicom falou, na oportunidade, que o maior aprendizado é andar com as pessoas certas. “Isso é essencial para a sobrevivência”, finalizou.
O presidente da casa de recuperação, Vardelar Francisco Luiz, disse que as doações são mais que bem-vindas, são necessárias para a recuperação dos internos. “Vivemos de doações, já que não cobramos um real pela internação deles. Quando a comida acaba, não tem outra maneira a não ser colocar os rapazes nas ruas para arrecadar alimentos. Assim, colocamos em risco a recuperação deles, uma vez que muitos deles encontram-se novamente com a bebida, com o cigarro e até com as drogas”, relatou.
As duas toneladas de alimentos e os produtos de higiene pessoal arrecadados nas três unidades do Senai-DF foram divididas entre o Centro de Recuperação Ressuscita Cristo e o Centro de Recuperação Filho Pródigo. A entrega na instituição Ressuscita Cristo, localizada em Taguatinga, foi feita na quinta-feira (4/8), também por alunos da entidade.
(*) Os nomes citados na matéria são fictícios. Muitos internos estão ameaçados de morte por traficantes e não podem ser identificados.
Suzana Leite
Assessoria de Imprensa
Sistema Federação das Indústrias do Distrito Federal
Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai-DF)
Foto: Cristiano Costa/Unicom