Alunos do Senai Gama se movem em prol da solidariedade
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- Criado: Segunda, 20 Agosto 2012 00:00
A dura realidade das ruas é algo impensável para o cidadão que tem um teto, seja este um palácio ou seja um casebre. É notório que muitos motivos podem levar o ser humano a tornar-se morador de rua, como as drogas, o álcool, a falta de recursos e oportunidades. Embora eles sejam uma população heterogênea, composto por pessoas de diferentes realidades, possuem em comum a condição de pobreza absoluta, vínculos familiares interrompidos ou fragilizados, sendo compelidos a utilizar a rua como espaço de moradia e sustento, de forma temporária ou permanente. Sem contar a convivência diária com a indiferença das pessoas, com o frio e a fome, com as doenças, com o medo, e, claro, com certeza de um futuro incerto.
O Estado por si só não é capaz de mudar essa realidade que alcança todo o País, desde as grandes capitais até as pequenas cidades. É preciso que a sociedade se organize e que cada cidadão assuma a responsabilidade com o outro. Desta forma, pensando em conscientizar os alunos acerca da necessidade de iniciativas filantrópicas, capazes de mudar a realidade ao nosso redor, o Senai-DF realizou a 4ª Gincana Solidária, que teve, como objetivo recolher o maior número de alimentos não perecíveis para, posteriormente, serem doados a instituições de caridade.
No Senai Gama, os alunos conseguiram 255 kg de alimentos. Eles não precisaram ir muito longe para ajudar a quem realmente precisa. A poucos quilômetros da unidade do Senai no Gama funciona a Casa de Apoio Santo André, que atende moradores de rua e dependentes químicos.
Diariamente, passam pelo local cerca de 35 moradores de rua. Na casa, eles tomam banho, recebem roupas limpas – que são doadas pela comunidade, fazem refeições e podem até ganhar um corte de cabelo. Além disso, a Casa de Apoio Santo André cuida de aproximadamente 50 dependentes químicos, que moram por lá. Estes recebem tratamento diferenciado e pessoal, chegando a ficar no local por até dois anos.
“Não temos ajuda do governo. Contamos, portanto, com a solidariedade das pessoas, da comunidade. Esse ano foi muito difícil para nós. Recebemos poucos alimentos, fizemos até uma campanha na Igreja, porque os internos não tinham mais o que comer. Esses alimentos doados pelos alunos do Senai Gama não podiam vir em melhor hora”, esclarece a secretária da Casa, Zuleida de Sousa.
A entrega dos alimentos foi feita pela equipe “Fuzuê”, vencedora da gincana por recolher a maior quantidade de alimentos. Na ocasião, os 15 alunos ouviram os relatos dos internos, que contaram a trajetória de suas vidas e o recomeço que puderam ter mediante o acolhimento na Casa Santo André.
O testemunho de Ronaldo Lima (40) é duro. Dependente químico e alcoólatra, ele conta que perdeu tudo quando conheceu o crack. “Fui ao fundo do poço por conta de uma pedra. Perdi meu emprego, minha esposa e meus quatro filhos, meus amigos. Passei a dormir no mato, em paradas de ônibus. Perdi tudo, até a minha dignidade, mas Deus não permitiu que eu perdesse a minha vida”, contou aos presentes.
Ronaldo falou sobre a covardia das ruas e aconselhou aos alunos para que eles tomassem cuidado com o que, aparentemente, parece inofensivo. “Tudo começa com amigos errados, em festas, com um gole em um copo de bebida”, disse.
Ao fim, Ronaldo, emocionado e com a voz embargada, finalizou: “Aqui, nós vivemos de doações. Obrigada a vocês”.
Os alunos também puderam falar. Arthur Soares (15), estudante do curso Auxiliar Administrativo do Senai Gama, falou aos internos que todo mundo merece uma segunda chance. “Trilhem novos caminhos, traçam novos sonhos. Vocês têm a vida pela frente e, podem ter certeza, já são vencedores por estarem aqui”, abordou. Para Arthur, o testemunho dos internos será determinante para que os jovens repensem suas atitudes, que podem os levar a conhecer as drogas e o álcool.
Já a jovem Ariele Alves (17) foi incisiva em suas palavras: “Vamos sair daqui e olhar para um morador de rua de forma diferente. Vocês são uma lição de esperança”, disse.
No próximo sábado, dia 25/8, será a vez dos alunos do Senai Taguatinga entregarem os alimentos recolhidos por eles na Gincana Solidária da unidade. Neste caso, a doação será feita à Casa da Criança Batuíra, que fica em Ceilândia Norte. O local funciona como um orfanato para crianças abandonadas.
Pesquisa
O Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome realizou entre os anos de 2007 e 2008 uma pesquisa em 71 cidades brasileiras com população superior a 300 mil habitantes, abrangendo as capitais. Segundo a pesquisa, cujos dados foram divulgados em 2008, havia à época 1.734 indivíduos que utilizam as ruas como moradia, em Brasília.
Entre a população em referência predominam as pessoas do sexo masculino (82%), com idade entre 25 e 44 anos (53%) e que nunca estudaram ou não concluíram o ensino fundamental (63,5%). Em relação à cor, 39,1% são pardos, 27,9% negros, 29,5% brancos, 1,3% indígenas, 1% amarelo oriental e 1,2% de cor não identificada.